Todos passamos pelas tempestades da adolescência e, depois, quando olhamos para trás, nada parecia tão complicado como pensávamos. Hoje a grande diferença está na comparação entre o antes e o agora. Até certo tempo, essas crises eram essencialmente internas, que se manifestavam pela insegurança, o despertar da sexualidade e os desafios sociais restritos aos grupos a que pertenciam. Agora, os problemas são maiores e mais desafiadores. Aos conflitos internos, somam-se os externos, cada vez mais crescentes: o medo do imprevisível, o perigo das bolhas nas redes sociais, a pornografia de fácil acesso, a violência, a sexualidade precoce e o vazio por ausência de ideais.
A série Adolescência, em exposição pelas plataformas de streaming, expõe um exemplo dos extremos a que estão chegando os adolescentes. As notícias sobre assassinato em escolas estão cada vez mais frequentes, assustando as famílias. A escola deixou de ser um lugar seguro. Presentes ainda o estímulo ao suicídio, a automutilação e outros práticas divulgadas pelas redes sociais. Os consultórios dos analistas, psicólogos e psiquiatras estão cheios de adolescentes à procura de solução para seus males.
Diante de tantas manifestações de profissionais especializados, expostas em livros, conferências e debates, trazer mais uma opinião é apenas uma tentativa de inserir-se nessa problemática.
A meu ver essa crise inusitada em que vivem os adolescentes do século XXI começa na infância, em que a presença dos pais está sendo substituída pelo celular, hoje elevado à condição de babá. Desse modo a mente infantil desenvolve-se precocemente para mais adiante mostrar-se insaciável por novas emoções.
Um adolescente que usa celular, diverte-se com jogos eletrônicos e tem seus grupos nas redes sociais está dentro da normalidade da atual geração. O que foge de uma normalidade sadia é a dependência e a dedicação exclusiva a esses meios. Sem controle, vão até pelas madrugadas com acesso livre em qualquer tipo de oferta.
Acostumados desde crianças a serem atendidos em seus mínimos desejos, quando chegam aos quinze anos não suportam um não. E matam os pais que, tardiamente, querem impor uma restrição.
Então, surge minha opinião sobre a presença do vazio na vida desses adolescentes.
É um fenômeno que ocorre por falta de ideais, de utopias, por falta de individualidade.
O excesso de opções e informações de que dispõem um adolescente hoje não deixa espaço para refletirem, para se autoavaliarem. Quando se reúnem em grupos, não conversam nem trocam suas experiências, pois o celular nas mãos não permite.
Outro importante fator que se revela nessa faixa etária é a falta de leitura, a prática de gostar de ler. Seria o melhor remédio para formarem uma consciência crítica capaz de afastá-los do vazio em que se encontram. Estão crescendo alheios ao destino político do seu estado e do país. Apáticos e medíocres, deixam-se conduzir por qualquer influência negativa, a ponto de levantarem cartazes pedindo a volta da ditadura, que não sabem nem o que é.
O desenvolvimento da leitura (seria bom que se tornasse vício) é uma atividade que deve nascer nos bancos escolares. Se descobrissem o que de valioso e fantástico há nos livros estariam resistentes para enfrentar as vicissitudes da vida.
Houve um tempo, que os pais levavam os filhos adolescentes aos padres para receberem as orientações que não sabiam dar. Hoje essa providência já pode ser buscada por eles mesmos. Ás vezes, basta uma simples orientação. Do mesmo modo, dos pais e dos professores, o gesto de entregar um livro para eles se encontrarem na leitura poderá evitar um desvio de conduta irreversível. O convívio com livros muda a vida das pessoas.
Por experiência pessoal, tenho a convicção de que, para superar as incertezas de hoje, é bom lembrar da lição de Flaubert: o único modo de suportar a existência é
precipitar-se na literatura como em uma orgia perpétua.
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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