TRÊS HOMENS EM CONFLITO

     Para homenagear Clint Eastwood pelos seus 90 anos, completados no dia 31 de maio passado, resolvi assistir pela enésima vez o grande clássico do cinema western: Três homens em conflito. Tudo pareceu como se fosse a primeira vez, ao som da música de Ennio Morricone.

     Certa vez fiz uma palestra sobre disputa pela guarda de filhos utilizando esse título, referindo-me ao pai biológico, ao registral e ao afetivo. Três pais em conflito pelo amor de um menino.

     Clint Eastwood foi e continua sendo competente: tudo em que pôs e põe suas mãos, seja como ator, como produtor, como diretor e como músico, torna-se um sucesso. Só agora, aos 90 anos, está envelhecendo – sim, porque continua trabalhando normalmente – com competência e com dignidade. “Nunca deixo o velho entrar em casa”, costuma ele dizer. Quem assistiu ao filme A mula pôde constatar esse fenômeno, no qual ele faz o papel de um idoso inconsequente.

     Nos faroestes, a individualidade de Clint Eastwood como durão, expressa-se no seu laconismo, no ato de mastigar o charuto e na precisão dos gestos. Fácil constatar que nesses filmes ele se apresentava como um eterno solitário.

     As cenas de Três homens em conflito são marcantes, à escolha do fã. Para mim, a mais emblemática é o duelo triplo, entre os três aventureiros: o bom (Clint Eastwood), o feio (Eli Wallach) e o mau (Lee Van Cleef).  Sob as notas excitadas do fundo musicial, o silêncio e a hesitação de cada um contendo a mão que vai sacar  primeiro o revólver, a gente fica suspenso, sem respirar. Pena que os jovens não experimentem essas emoções. Estão em outras órbitas.

     Guardo uma revista Alfa que traz Clint Eastwood na capa, em atenção aos, então, 81 anos, preparando-se para lançar seu 35º filme. Naquela reportagem, dentre várias declarações dele, assinalei a que ele recomenda a necessidade de estar faminto e curioso com a vida para que a mente não seja dominada pela senilidade. Constata-se hoje, aos 90 anos, que ele mantém essa mesma dieta.

     Em seu rosário de filmes, destaco só os de western (ou bangue-bangue, ou faroeste, ao gosto do freguês) que se eternizaram na memória dos amantes da sétima arte com mais de cinquenta anos: Os imperdoáveis, O cavaleiro solitário, A marca da forca,  Por um punhado de dólares, Por uns dólares a mais e O homem sem nome. Esses sob a direção de Sérgio Leone. Em Os abutres têm fome surge a atuação destacada de uma mulher: Shirley MacLaine, uma raridade em faroestes. Todos  esses filmes levaram multidões aos cinemas.

     Em todos esses filmes, o nonagenário de hoje comporta-se como um ator em sua plenitude, com a maior naturalidade. Convido o leitor a assisti-los.

     Para encerrar esta invocação ao filme Três homens em conflito, deixo ao leitor a lembrança da mordacidade desta frase que Blondie (Clint) diz a Tuco (Eli), quando o obriga a cavar uma sepultura em busca dos dólares enterrados: “Existem, no mundo, dois tipos de pessoas: as com armas carregadas e as que cavam”.

Por: Lourival Serejo

 



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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