TRÊS TRISTES PERDAS

     A literatura perdeu, nos últimos dias, três figuras de notável projeção na galeria dos grandes autores: Rubem Fonseca, Luís Alfredo Garcia-Roza e o escritor chileno Luís Sepúlveda.

     Conheci  Rubem Fonseca pela fama que conquistou como contista e roteirista e pelo respeito que alcançou com os romances Feliz ano novo; Agosto; e Vastas emoções e pensamentos imperfeitos. Consagrou-se, ainda, com O selvagem da ópera, História de amor, Mandrake: a Bíblia e a bengala, Pequenas criaturas e tantos outros. Depois que li A grande arte, minha admiração por ele cresceu mais. Ao todo, escreveu trinta livros.

     Rubem Fonseca era mineiro de Juiz de Fora. Suas obras trazem muito de sua experiência como comissário de polícia, quando era jovem, e como  advogado. Daí a sua especialização em romances policiais, nos quais retratava a violência e a brutalidade da vida suburbana. Em 2003, ele ganhou o festejado prêmio Camões, conferido a escritores de língua portuguesa.

     Luis Alfredo Garcia-Roza, além de escritor, era psiquiatra e professor. Estreou na literatura aos 60 anos e conseguiu, até seus 84 anos de vida, publicar uma vasta obra de ficção e não-ficção, ressaltando-se doze romances policiais que se afirmaram como verdadeiras obras literárias pela precisão do seu estilo.  

     Um número considerável de escritores resgataram o romance policial do submundo da literatura, pela arte com que cuidaram em elaborar narrativas de alto nível, a exemplo, hoje, do cubano Leonardo Padura.

     Rubem Fonseca e Garcia-Roza inegavelmente afirmaram-se como escritores dignos do nosso respeito.

     O terceiro dessa trilogia é Luís Sepúlveda, nascido em Ovalle (Chile) em 1949. Além de escritor, era roteirista e jornalista.  Surpreendi-me ao ler a coluna do PH, que prestou uma longa homenagem a esse escritor latino-americano. Liguei para o Pergentino e ele me detalhou sua admiração ao escritor  e a amizade que mantinha com ele.

      Luís Sepúlveda morreu vítima da Covid-19, na Espanha, onde residia ultimamente. Depois que se exilou, à época da ditadura Pinochet, ele passou por diversos países, inclusive pelo Brasil. Residiu na Alemanha, França e, por último, Espanha. Dentre suas obras, já li La sombra de lo que fuimos e Um velho que lia romances de amor.

     A consagração de Sepúlveda deu-se pelo romance Um velho que lia romances de amor, acatado internacionalmente como uma grande obra, em defesa da ecologia e dos povos da Amazônia peruana. O livro foi dedicado a Chico Mendes.

     Antonio José Bolívar Proaño morava no povoado Idílio, em uma cabana de madeira. Seu grande prazer era ler romances de amor, doados a ele pelo dentista do lugar. Lia com dificuldade, com ajuda de uma lupa, palavra por palavra, depois repetia a frase inteira para entender a linguagem. Repetia várias vezes, “a divagar sobre os mistérios do amor e a imaginar os lugares onde aconteciam as histórias”.

     Com esse título especial que atrai os leitores, o autor, no contexto da narração faz as denúncias sobre a situação daquela gente isolada, no meio da floresta, e os perigos da exploração aleatória.

     Contendo menos de cem páginas, esse livro conseguiu afirmar-se como um dos representantes da literatura latino-americana.  

     Por esses comentários, tenho certeza que o leitor concordará comigo em lamentar essas tristes mortes, talvez despercebidas pelo tempo que estamos atravessando, no qual a morte se tornou tão rotineira.

Por: Lourival Serejo



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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