O SILÊNCIO

     O italiano Domenico de Masi alertou, em seu livro O ócio criativo, sobre a necessidade de vivermos momentos de ociosidade para desfrutar da vida em sua inteireza. Para um desempregado, essa proposta seria um acinte.

     Suas lições perderam-se nas dobras da hipermodernidade, que elegeu a ligeireza e o desempenho como atitudes básicas de comportamento.

     Em seu livro Da leveza, Gilles Lipovetsky explora os rumos a que a civilização do ligeiro leva os que cultuam o consumismo, a aparência e a superficialidade na busca de uma felicidade de conotação assumidamente individual.

      Diferente desse diagnóstico, o filósofo coreano Byung-Chul Han, em sua obra A sociedade do cansaço, denuncia os riscos a que está sujeita a “sociedade do desempenho”, hoje preocupada apenas com o trabalho excessivo e o sucesso individual, o que resultará na formação de estressados e depressivos. Com o excesso de informação, a luta pela sobrevivência e a competição acirrada, a opção é correr no dia a dia até à exaustão. O medo do fracasso, diz o autor, leva o homem pós-moderno a consumir-se completamente nessa ânsia de produção.

     Alerta, ainda, o filósofo coreano para outro efeito negativo dessa corrida pelo desempenho: a imunização que isola o sujeito do seu próximo, ou seja, o alheamento à alteridade. O “sujeito imunológico” fecha-se em si mesmo.  

     Então, como uma opção para superar essas patologias sociais, complementadas pela parafernália eletrônica e a intensidade dos decibéis que nos rodeiam, apontam outros estudiosos para a mais simples e inusitada das soluções: o silêncio. Não o silêncio das florestas e dos desertos, mas o silêncio interior, cultivado pela meditação, pelo autoconhecimento e pelo encontro consigo mesmo.

     O monge beneditino Anselm Grün tem um trabalho excelente sobre o poder do silêncio, no qual analisa várias passagens da Bíblia para reforçar suas colocações e apelos. Dentre suas sugestões, ressalto a meditação e a contemplação, todas como práticas de apoderar-se do silêncio: “Não precisamos fazer força para capturar o silêncio. O silêncio está aí, dentro de nós, e só quer ser descoberto e percebido”.

     Depois que fiz um curso sobre meditação, posso assegurar que essa percepção de si mesmo conduz a esse silêncio de que fala o monge, com efeitos práticos imediatos.

     Sem pretensões maiores, ofereço aos leitores estes pontos de conscientização e ação como alertas contra neurose das variantes do mundo pós-moderno.

Por: Lourival Serejo



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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