NELSON MANDELA: 100 ANOS

Por Lourival Serejo.

Neste 18 de julho de 2018, comemora-se o centenário de nascimento de Nelson Mandela. Não é um aniversário comum, como o meu, coincidentemente na mesma data, mas o aniversário do maior estadista africano e um dos maiores da história política universal.

Na minha juventude, admirava alguns líderes africanos: o poeta Léopold Senghor, presidente do Senegal; Agostinho Neto, de Angola; e outros revolucionários, como Amílcar Cabral, Patrice Lumumba e Samora Machel. Depois, ou concomitantemente, despontaram tantos mais, como Gamal Abdel Nasser e Anwar Sadat, no Egito. Este último, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 1978. Em data mais próxima, em 1984, também foi agraciado com esse Prêmio o bispo Desmond Tutu, da África do Sul.

Nelson Mandela, também ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 1993, superou todos em grandiosidade e talento.

O continente africano tem sido palco, ao longo dos anos, de lutas contínuas contra o colonialismo, contra tribos rivais e contra o subdesenvolvimento. Atualmente, grupos guerrilheiros disseminam violência por vários países, praticando atrocidades de todos os tipos. Essas circunstâncias têm favorecido o surgimento de ditadores bizarros e cruéis em sucessivos golpes de Estado.

Ao assumir o governo da África do Sul, em eleições livres, Nelson Mandela tinha duas opções: vingar-se dos seus opressores, que lhe privaram da liberdade por 27 anos, ou esquecer tudo e perdoar aqueles que o condenaram, os africâneres. Estes formavam um grupo étnico de europeus que vieram colonizar a África e passaram a dominar a maioria negra, estimulando e praticando a política de segregação conhecida como apartheid.

Mandela fez a segunda opção e tornou-se o estadista que mudou a face da África e que o mundo reverencia pelas lições que deixou em prol da convivência pacífica: "Ao decidir perdoar você não apenas liberta o oprimido como liberta o opressor". Para consolidar seu propósito de paz, instituiu a Comissão de Verdade e Reconciliação para ouvir os opressores e os oprimidos por um diálogo permanente de convivência e perdão.  

A tolerância e a superioridade emocional de Mandela fizeram-no conservar em seu gabinete antigos africâneres que haviam servido o ex-presidente De Klerk. Talvez tenho sido o Prêmio Nobel da Paz mais bem conferido até hoje, pois a postura de Nelson Mandela evitou uma guerra civil de consequências imprevisíveis na África do Sul.

Enquanto esteve preso na Ilha Robben, sempre que se deparava com alguma coisa errada ou injusta costumava exclamar: Isso não é certo. Nessa expressão afirmava o seu senso de justiça e afeto pelo próximo, que sustentaram seu caráter, mantido inabalável, depois de passar dos seus 44 a 71 anos de idade privado da liberdade.

Biografias, filmes e vários estudos continuam sendo dedicados para enaltecer o grande homem que foi Mandela. Agora estão sendo publicadas, no Brasil, suas cartas escritas na prisão.

No mundo de intolerância e violência em que vivemos, lembrar esta data e comemorar o centenário de Nelson Mandela serve de inspiração para despertar o dever ético da responsabilidade e respeito pelos direitos individuais e pela coisa pública.

Para o momento em que estamos, mergulhados num crescente individualismo, é bom repetir esta lição – dente tantas –, de Nelson Mandela: "Na África, temos um conceito conhecido como ubuntu, baseado no reconhecimento de que somos pessoas somente por causa das outras pessoas."

E para os políticos, em tempo de eleições, quando os eleitores estão desestimulados a votar por falta, de credibilidade na classe política, recomenda Mandela: "O sucesso na política exige que você leve seu povo a ter confiança em seus pontos de vista e que os exponha com muita clareza, muita polidez e muita calma, mas que ainda assim os exponha abertamente."

A liderança do notável estadista da África do Sul convergia para a reconciliação, para a paz e para o afeto, na postura ética permanente do encontro com o outro.

Por tudo isso ele merece ser lembrado e exaltado nos cem anos do seu nascimento.

 



Lourival Serejo

     Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
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