A invocação da democracia tem sido banalizada pelas diversas correntes ideológicas, a torto e a direito, inclusive pelos “constitucionalistas dos cafés”.
É pacífico – não é mais novidade –, no meio jurídico, entre os cientistas políticos, principalmente, que a democracia está passando por fases e modos sucessivos de ameaças, reforçados pela guinada americana que abalou a referência que sempre foi cultivada de que nos EUA os governos primavam pela defesa dos postulados democráticos.
De vez quando, inventa-se um adjetivo para atrelar-se à palavra democracia. Lembro-me de uma época, se não me engano, quando Fernando Henrique era presidente, que inventaram a expressão “democracia radical”. Logo apareceram os defensores da técnica para advertirem: a democracia é; não tem adjetivos.
O certo é que nunca se discutiu tanto a democracia como ultimamente. São livros e mais livros falando sobre os perigos que rondam a democracia, até mesmo a morte da democracia já foi prevista.
O mais recente livro que li com esse tema traz um título provocativo: Democracia fake: a metamorfose da tirania no século XXI, da autoria de dois professores americanos: Sergei Guriev e Daniel Tresman.
Para explicar o que pretendem dizer com o termo democracia fake, os autores partem da análise do novo fenômeno político do século XXI: os ditadores spin.
Pesquisando no Google, encontrei que esse termo inglês se traduz por “torcer”, “girar” ou “rodar”, e pode ser usado em sentido figurado com o significado de dar um novo giro numa história. Isto é, distorcer os fatos.
Então, os ditadores spin da atualidade não usam mais o medo e a violência para controlar a população, mas sim os métodos que abrangem a desinformação e o uso de todas as bolhas de algoritmos capazes de disseminarem as mentiras. Apelando para os temas já consagrados – corrupção, família, ordem etc. – esses ditadores mantêm a massa sob permanente controle, sem necessidade de impor-se pelo medo, o degredo e fuzilamento, métodos usados na era de Stálin. Depois da implantação das desinformações, falam de democracia, a democracia deles.
Os métodos sofisticados de comunicação moderna são tão eficientes que a população controlada numa ditadura absorve as mensagens como sendo próprias e as defende com convicção. E juram que vivem sob uma democracia.
Nunca esteve tão atual agora o livro de Étienne de La Boétie, Discurso da servidão voluntária, escrito em latim, quando o autor tinha entre 16 e 18 anos. Nessa obra, ele denuncia a passividade de submeter-se voluntariamente a um soberano, sem iniciativa de romper com a situação opressora. A diferença é que os tiranos de ontem são substituídos pelos algoritmos de hoje.
Bem antes, eu diria que só a educação evitaria essa servidão voluntária na sociedade atual. Mas não é mais assim. São tantas as pessoas com nível superior de educação com as quais convivemos e que comprovadamente vivem sob a mesma anestesia ideológica, com uma consciência intransitiva, acreditando que só a democracia deles é a verdadeira.
Não vamos perder a esperança. Velha, desde o tempo de Péricles, lá na antiga Grécia, a democracia vem se mantendo firme com seus ruídos e suas lutas, sempre a favor do povo, para o povo e pelo povo.
Lourival de Jesus Serejo Sousa nasceu na cidade de Viana, Maranhão. Filho de Nozor Lauro Lopes de Sousa e Isabel Serejo Sousa. Formou-se em Direito, em
Saiba mais